Ainda o tema do preservativo

Agora D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, a dar a visão mais pastoral, e correcta quanto a mim, sobre o tema. Artigo publicado hoje no Diário de Notícias.

 

Ilídio Leandro admite, no mensagem da Quaresma que tem no ‘site’ da Diocese de Viseu, que os  infectados com sida devem usar contracepção para evitar a transmissão. “Não tenho medo de polémicas”, diz.

Miguel Oliveira da Silva considera que a Igreja deve admitir o uso de protecção para os infectados com sida, uma doença que afecta 33 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas, assegura que “com este Papa não vai haver modificações nenhumas quanto ao uso do preservativo”.

O bispo de Viseu defende o uso do preservativo em pessoas infectadas com a sida. Na mensagem da quaresma, publicada no site da internet da Diocese de Viseu, Ilídio Leandro lembra que “a pessoa que não prescinde de uma relação sexual é moralmente obrigada a não transmitir a doença, com preservativo, meio que evita essa propagação”. Ao DN o bispo garante não ter medo de polémicas e assume a sua posição como de “unidade” em relação à doutrina da Igreja Católica. Apesar desta postura, o bispo de Viseu sublinha estar ao lado do Papa – que defende a abstinência sexual para evitar a propagação da doença. “O Papa, quando fala da sida ou de outros aspectos da vida humana, não pode fazer doutrina para situações individuais e casos concretos”, recorda o bispo, acrescentando: o Papa “não podia dizer outra coisa, enquanto chefe da igreja”.

Isto, referindo-se às palavras de Bento XVI na visita que fez a África, de que o problema da sida naquele continente (onde há 20 milhões de infectados) não se resolve com preservativos.

Ilídio Leandro salienta que “uma coisa é a lei geral e a orientação da Igreja sobre determinados comportamentos, a nível de tese e outra coisa é o acompanhamento de pessoas e questões concretas”.

O bispo de Viseu assume não ter “medo, reserva mental ou hipocrisia” para “admitir esta doutrina”. E garante estar preparado para as reacções a uma posição que divide a Igreja. Há bispos, como D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, que se recusam a comentar o tema. Mas há outros, como o bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, que – depois de o Papa ter criticado em África o uso da contracepção – considerou que “proibir o preservativo é consentir na morte de muitas pessoas”

Questionado sobre o peso das suas afirmações Ilídio Leandro é claro: “Não tenho medo de polémicas”. E lembra que a posição que defende é a de “um servidor que não pode alhear-se do seu povo”.

Crítico daqueles que contestaram as afirmações de Bento XVI, o bispo de Viseu aponta ainda o dedo a quem “não sabe interpretar as diferenças entre valores e princípios gerais, por um lado, e situações concretas e pessoais, por outro”, e acusa-os de serem “donos ou correias de transmissão de interesses económicos e políticos”.

O bispo realça, por outro lado, que “a promoção de valores cristãos não esmaga a pessoa concreta, em situações muito individuais” antes “dá a mão com paciência, tolerância e compreensão, indo até onde for possível para nunca abandonar a pessoa”. 

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