A verdade

Vamos lá a pôr um pouco de rigor no que disse o Papa sobre o uso do preservativo e o que dizem as investigações científicas. O que impressiona no meio disto tudo é ficar-se pela superfície da questão e criticar por criticar, esterilmente.

Do Director do Projecto de Estudos sobre Prevenção do S.I.D.A. de Harvard: Afirmações do Papa acerca da distribuição do preservativo tornar a epidemia de S.I.D.A. pior estão correctas

Por John –Henry Westen

19 de Março de 2009  – Edward C. Green, Director do Projecto de Estudos sobre a Prevenção do S.I.D.A.  do Centro de Estudos sobre População e Desenvolvimento de Harvard, afirmou que a evidência corrobora as afirmações do Papa ao declarar que a distribuição de preservativos  piora o problema do S.I.D.A.

 “O Papa está certo”, afirmou Green ao National Review Online na passada Quarta-feira,”ou, melhor dizendo, as nossas melhores conclusões vão ao encontro dos comentários do Papa.”

“Existe”, acrescentou Green, “ um paralelo consistente que mostram os nossos estudos, incluindo a “Demographic Health Surveys”, fundada pelos Estados Unidos, entre uma maior disponibilidade e uso de preservativos e uma maior – não menor – incidência de infecções pelo vírus HIV. Isto pode dar-se devido ao fenómeno conhecido por “compensação de risco”, significando que quando a população utiliza uma tecnologia de redução de risco como o preservativo, muitas vezes essa mesma população perde o benefício da redução desse risco ao “compensar”, arriscando-se mais do que faria sem essa tecnologia. 

A Pagina Electrónica do Projecto do S.I.D.A. sobre Green menciona o seu livro “Repensar a Prevenção do S.I.D.A.: Aprendendo com os Sucesso de Países em Desenvolvimento”. Nele Green revela que “ As soluções, na sua maioria médicas, fundadas pelos grandes doadores tiveram pouco impacto em África. Em compensação, mudanças de comportamento relativamente simples e de baixo custo – como insistindo numa crescente monogamia e no adiamento da actividade sexual para os mais novos – têm tido maior sucesso na luta contra a doença e na sua prevenção.”

Ler entrevista completa no National Review: From Saint Peter’s Square to Harvard Square

O texto completo da conversa entre o Papa e o jornalista

O texto completo da troca de impressões entre o Papa Bento XVI e o repórter, texto esse que lançou uma tempestade na imprensa mundial, foi divulgado agora pela imprensa do Vaticano.

O Papa foi confrontado com a seguinte questão: “ Santo Padre, um dos maiores flagelos de África é o problema da epidemia de S.I.D.A.. A posição da Igreja Católica  na luta contra este mal tem sido frequentemente considerada irrealista e ineficaz.”

Bento XVI respondeu: “ Eu diria o contrário.

“Estou convencido de que a presença mais efectiva na frente de batalha contra o HIV/S.I.D.A. são, precisamente, a Igreja Católica e as suas instituições. Penso por exemplo na Comunidade de Santo Egídio, que tanto faz e tão visivelmente na luta contra o S.I.D.A; ou nas Camillianas, só para mencionar algumas das freiras que estão ao serviço dos doentes.

Penso que este problema, o S.I.D.A., não pode ser vencido com slogans de propaganda. Se falta a alma, se os Africanos não se entre ajudarem, o flagelo não pode ser resolvido com a distribuição do preservativo; pelo contrário, arriscamo-nos a piorar a situação. A solução só pode advir de um compromisso duplo: primeiro, na humanização da sexualidade, ou por outras palavras, num renovamento espiritual e humano que traga consigo uma nova forma de proceder uns para com os outros. E em segundo lugar, num amor autêntico para com os que sofrem, numa prontidão – mesmo à custa de sacrifício pessoal – para estar presente aos que padecem. São estes os factores que podem trazer o progresso, real e visível.

Assim, eu diria que o nosso esforço deve ser o de renovar a pessoa humana por dentro, o de dar-lhe força espiritual e humana para uma forma de comportamento justa para com o seu corpo e o corpo do outro; e ainda  o de ajudá-la a ser capaz de sofrer com os que sofrem e de estar presente nas situações difíceis.

Acredito que é esta a primeira resposta ao problema do S.I.D.A., que é esta a resposta da Igreja e que, deste modo, a sua contribuição é uma grande contribuição. E estamos gratos a todos os que assim contribuem.”

Veja as credenciais impressionantes e a lista de publicações do Dr. Green em http://www.harvardaidsprp.org/faculty-staff/edward-c-green-bio.html

Recortes da Encíclia Spe Salvi (Parte 1)

“A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho. E imediatamente se levanta a questão: mas de que género é uma tal esperança para poder justificar a afirmação segundo a qual a partir dela, e simplesmente porque ela existe, nós fomos redimidos? E de que tipo de certeza se trata?”
(…)

[Fundamento bíblico]


“[Esperança] é, de facto, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos «fé» e «esperança». [Heb 10, 22-23; 1 Pe 3, 15] (…) «esperança» equivale a «fé». (…) Paulo lembra aos Efésios que, antes do seu encontro com Cristo, estavam «sem esperança e sem Deus no mundo» (
Ef 2,12). …estavam «sem Deus» e, consequentemente, achavam-se num mundo tenebroso, perante um futuro obscuro.

Ao mesmo tempo, diz aos Tessalonicenses: não deveis « entristecer-vos como os outros que não têm esperança » (1 Ts 4,13). Aparece aqui também como elemento distintivo dos cristãos o facto de estes terem um futuro: não é que conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem em termos gerais que a sua vida não acaba no vazio. (…) …a mensagem cristã não era só «informativa», mas «performativa». Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida.(…) Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova.”

(…)

“… em que consiste esta esperança que, enquanto esperança, é «redenção»? (…) Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança.”

[Na Igreja primitiva] “O cristianismo não tinha trazido uma mensagem sócio-revolucionária semelhante à de Espártaco que tinha fracassado após lutas cruentas. Jesus não era Espártaco, não era um guerreiro em luta por uma libertação política… (…) Aquilo que Jesus (…) tinha trazido era algo de totalmente distinto: o encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus vivo e, deste modo, o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo.A novidade do que tinha acontecido revela-se, com a máxima evidência, na Carta de São Paulo a Filémon. Trata-se de uma carta, muito pessoal, que Paulo escreve no cárcere e entrega ao escravo fugitivo Onésimo para o seu patrão – precisamente Filémon. É verdade, Paulo envia de novo o escravo para o seu patrão, de quem tinha fugido, e fá-lo não impondo, mas suplicando: « Venho pedir-te por Onésimo, meu filho, que gerei na prisão […]. De novo to enviei e tu torna a recebê-lo, como às minhas entranhas […]. Talvez ele se tenha apartado de ti por algum tempo, para que tu o recobrasses para sempre, não já como escravo, mas, em vez de escravo, como irmão muito amado » (Flm 10-16). Os homens que, segundo o próprio estado civil, se relacionam entre si como patrões e escravos, quando se tornaram membros da única Igreja passaram as ser entre si irmãos e irmãs – assim se tratavam os cristãos mutuamente. (…) Apesar de as estruturas externas permanecerem as mesmas, isto transformava a sociedade a partir de dentro.
(…)
[En la Carta a los Hebreos 11, 13-16] a sociedade presente é reconhecida pelos cristãos como uma sociedade imprópria; eles pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada.

[1 Cor 1, 18-31] Não são os elementos do cosmo, as leis da matéria que, no fim das contas, governam o mundo e o homem, mas é um Deus pessoal que governa as estrelas, ou seja, o universo; as leis da matéria e da evolução não são a última instância, mas razão, vontade, amor: uma Pessoa. (…) em tudo e, contemporaneamente, acima de tudo há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus Se revelou como Amor.

Para os mais desatentos

Foi publicada mais uma encíclica do Papa Bento XVI intitulada Spe Salvi – Salvos pela esperança.

Já li e recomendo vivamente a todos os cristãos católicos, a quem é dirigida esta carta.

Aqui fica a ligação.

Como na encíclica anterior o Papa não foge às perguntas que hoje em dia necessitam ser respondidas pela fé.